Por que fazer terapia ainda é considerado um tabu?
TERAPIA INDIVIDUALSAÚDE MENTAL
Paula S'corsato
2/25/20255 min read


Imagine um mundo onde cuidar da saúde mental fosse tão natural quanto cuidar da saúde física. Um mundo onde marcar uma consulta com um psicólogo ou psiquiatra fosse visto com a mesma normalidade que ir ao médico para um check-up anual.
No entanto, essa realidade ainda parece distante para muitas pessoas. Apesar dos avanços significativos na compreensão da importância da saúde mental, a terapia ainda carrega um estigma que persiste como uma sombra silenciosa, influenciando decisões, perpetuando mitos e, muitas vezes, impedindo que indivíduos busquem a ajuda de que precisam.
Mas por que, em pleno século XXI, fazer terapia ainda é considerado um tabu? Por que algo que pode ser tão transformador e libertador ainda é visto com desconfiança, vergonha ou até mesmo medo?
Neste artigo eu busco explorar as raízes desse fenômeno, desvendando os fatores culturais, sociais e psicológicos que contribuem para a persistência desse tabu.
Ao longo das próximas linhas, vamos mergulhar em um tema complexo, mas essencial, que diz respeito não apenas àqueles que evitam a terapia, mas a todos nós, como sociedade.
1. A herança histórica: saúde mental como "loucura"
Para entender por que a terapia ainda é um tabu, é preciso voltar no tempo. A história da saúde mental é marcada por séculos de incompreensão, preconceito e exclusão.
Durante muito tempo, transtornos mentais eram associados à "loucura", e aqueles que sofriam de condições psicológicas eram frequentemente marginalizados, trancados em instituições ou submetidos a tratamentos desumanos.
Essa visão distorcida da saúde mental deixou um legado profundo. Mesmo com os avanços da psiquiatria e da psicologia ao longo do século XX, a ideia de que problemas emocionais ou psicológicos são sinais de fraqueza ou instabilidade persiste.
Para muitas pessoas, buscar terapia ainda é associado a "estar maluco" ou "fora do controle", o que gera medo e resistência.
2. A cultura do "aguentar firme"
Em muitas culturas, especialmente em países como o Brasil, existe uma forte valorização da resiliência e da capacidade de "aguentar as pontas" diante das adversidades.
Frases como "engole o choro" ou "levanta a cabeça e segue em frente" são comuns e refletem uma mentalidade que prioriza a força emocional acima de tudo.
Essa cultura pode ser prejudicial, pois desencoraja as pessoas a expressar vulnerabilidade ou buscar ajuda. Afinal, se você é ensinado desde cedo que demonstrar fraqueza é algo negativo, por que admitiria que precisa de terapia?
Essa pressão para parecer sempre forte e inabalável cria uma barreira invisível, mas poderosa, que impede muitas pessoas de cuidar da própria saúde mental.
3. O medo do julgamento alheio
Um dos maiores obstáculos para quem considera fazer terapia é o medo de ser julgado pelos outros. Em uma sociedade onde a imagem pessoal é tão valorizada, admitir que se está passando por dificuldades emocionais pode ser visto como um sinal de fracasso ou incompetência.
Esse medo não é infundado. Muitas pessoas ainda associam terapia a algo negativo, como se fosse um "admissão de derrota" ou um sinal de que alguém não consegue lidar com a própria vida.
Esse tipo de julgamento pode vir de familiares, amigos, colegas de trabalho ou até mesmo de parceiros românticos, criando um ambiente hostil para quem deseja buscar ajuda.
4. A falta de informação e os mitos sobre terapia
Outro fator que contribui para o tabu em torno da terapia é a falta de informação. Muitas pessoas têm ideias equivocadas sobre o que significa fazer terapia, baseadas em mitos ou representações distorcidas da mídia.
Por exemplo, algumas pessoas acreditam que terapia é apenas para quem tem transtornos mentais graves, como depressão profunda ou esquizofrenia.
Outras acham que o terapeuta vai "dizer o que fazer" ou "dar conselhos", como se fosse uma espécie de guru. Esses mitos afastam as pessoas da terapia, pois criam expectativas irreais ou medos infundados.
A verdade é que a terapia é um processo muito mais amplo e acessível do que muitas pessoas imaginam.
Ela pode ajudar desde questões cotidianas, como estresse no trabalho ou dificuldades nos relacionamentos, até desafios mais complexos, como traumas ou luto. Além disso, o papel do terapeuta não é dar respostas prontas, mas sim ajudar o paciente a encontrar suas próprias soluções.
5. O custo e a acessibilidade
Embora o tabu em torno da terapia tenha raízes culturais e psicológicas, também há fatores práticos que contribuem para a resistência em buscar ajuda. Um deles é o custo. Em muitos lugares, a terapia ainda é vista como um luxo, algo acessível apenas para quem pode pagar por consultas particulares.
Embora existam opções mais acessíveis, como terapias oferecidas por universidades ou serviços públicos de saúde, a falta de informação sobre essas alternativas e a desconfiança em relação à qualidade do atendimento podem afastar as pessoas.
Além disso, em regiões mais remotas ou carentes, o acesso a profissionais qualificados pode ser limitado, reforçando a ideia de que terapia é algo distante da realidade da maioria.
6. A terapia como um processo desconhecido
Para muitas pessoas, a terapia é um território desconhecido e, como tal, gera medo e insegurança. Não saber o que esperar de uma sessão, como se portar ou o que dizer pode ser intimidante, especialmente para quem nunca teve contato com um psicólogo.
Esse desconhecimento é agravado pela falta de diálogo aberto sobre terapia. Como o assunto ainda é cercado de tabus, muitas pessoas crescem sem exemplos de familiares ou amigos que façam terapia, o que torna a ideia ainda mais estranha e assustadora. Sem referências ou modelos, é natural que haja resistência em dar o primeiro passo.
7. O impacto das redes sociais e da busca pela perfeição
Paradoxalmente, em uma era onde as redes sociais incentivam a exposição constante da vida pessoal, falar sobre saúde mental ainda é um tabu.
A cultura da perfeição, onde todos parecem felizes, bem-sucedidos e imunes aos problemas, cria uma pressão enorme para esconder qualquer sinal de dificuldade.
Ao mesmo tempo, as redes sociais também têm sido um espaço para a desconstrução de tabus, com influenciadores e personalidades públicas compartilhando suas experiências com terapia. Esse movimento é importante, mas ainda enfrenta resistência, especialmente entre gerações mais velhas ou em comunidades mais conservadoras.
Conclusão: Rompendo o silêncio
Fazer terapia ainda é um tabu por uma série de razões interligadas: herança histórica, pressão cultural, medo do julgamento, falta de informação e barreiras práticas. No entanto, é essencial reconhecer que esse tabu não é imutável.
A cada dia, mais pessoas estão quebrando o silêncio e compartilhando suas experiências com terapia, ajudando a normalizar a busca por ajuda psicológica.
Rompendo o tabu da terapia, não estamos apenas cuidando da saúde mental individual, mas também construindo uma sociedade mais empática, compreensiva e saudável. Afinal, cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo – e não há vergonha nenhuma em admitir que precisamos de ajuda para seguir em frente.


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